O mundo segue em constante transformação, e, cada vez mais conectado, leva o setor de tecnologia para um novo patamar de influência sobre a economia global. Os sistemas e serviços digitais já fazem parte da rotina de pessoas e empresas, fazendo com que a oferta e a demanda por soluções se intensifique para além dos grandes centros tecnológicos como os Estados Unidos, China, Reino Unido e Israel. Essa pulverização do segmento tem sido positiva para países que ainda buscam seu espaço na corrida tecnológica global, que tem potencial de ser um dos grandes exportadores de alta tecnologia no futuro. Diferentes estudos internacionais revelam que a inovação tecnológica influencia positivamente a propensão a exportar e, sob essa ótica, o Brasil está em evolução.
Um indicativo vem do Índice Global de Inovação 2020, da Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI), que mostra que o país subiu quatro posições no ranking mundial de inovação desde 2019, passando do 66º para a 62º posição entre 131 nações. Um ponto alto brasileiro é possuir uma intensidade de Pesquisa e Desenvolvimento comparável a algumas economias europeias como Portugal e Espanha. Além disso, junto de México e Argentina, é um dos únicos países da América Latina com empresas globais de P&D (23º no ranking global).
O mesmo estudo coloca o Brasil como o quarto colocado – entre os emergentes – com melhor desempenho em qualidade de inovação (29º geral). O crescimento no ranking é puxado por melhorias em indicadores de novos negócios, produtos de alta e média-alta tecnologia, receitas de produção industrial e exportações de serviços de TIC.
Guilherme Coan Hobold, diretor do Grupo Temático de Internacionalização da Associação Catarinense de Tecnologia (ACATE), explica que a pandemia acelerou e tornou mais barata a conexão com mercados internacionais. Como não era possível fazer viagens e visitas presenciais, os times locais perderam relevância e as questões passaram a ser resolvidas de forma remota, o que facilitou esse tipo de operação. Além disso, o câmbio, com a alta do dólar, impulsionou a competitividade das soluções brasileiras. Outro ponto de destaque é a relevância das empresas nacionais de tecnologia, com vários unicórnios recentes, o que ajuda a abrir portas para outras companhias do país.
Em relação aos maiores desafios, Guilherme cita alguns apontados por uma pesquisa anual realizada com associadas da ACATE sobre o tema de internacionalização. Alguns itens listados são a dificuldade de gerar oportunidades de vendas em outros mercados, além de dúvidas em relação a questões tributárias e legais nesses países. “Hoje as barreiras não existem mais, são apenas virtuais. Então as empresas que têm um produto de qualidade, diferenciado e que resolvem uma dor global irão conseguir avançar e crescer fora do país. Para iniciar esse processo, é fundamental ter parte do time dedicada à internacionalização, além de mudar o mindset da empresa para também priorizar o mercado internacional”, explica.
Pouco a pouco os índices melhoram e a cada novo passo, mais empresas passam a mirar o mercado internacional para exportarem suas tecnologias e, algumas, já começam a obter resultados de impacto, confira:
Inovação brasileira na agricultura global
Potência agrícola mundial, o Brasil também se destaca na produção de tecnologias para otimização das operações do campo. Não à toa, uma startup nacional do setor chamou a atenção e foi comprada por uma multinacional, dando origem à divisão de Agricultura da Hexagon. Com sede e fábrica em Florianópolis (SC), a empresa produz soluções que auxiliam o agronegócio de todo o mundo — 30 mil máquinas utilizam suas tecnologias em 36 países. “Nossa principal estratégia internacional é com distribuidores. Temos parceiros na África do Sul, Cazaquistão, Austrália, Tailândia, Japão e diversos países da América Latina e da Europa”, explica o presidente da divisão, Bernardo de Castro. Exemplos são a marca argentina de produtos agrícolas ControlAgro, que revende o piloto automático e outras soluções de precisão, e a distribuidora ucraniana Frendt, que trabalha com a automação de máquinas da Hexagon.
Software de simulação de partículas 3D é distribuído mundialmente
Criado pela ESSS — multinacional focada em simulação computacional — no Brasil, o Rocky DEM é um poderoso software de simulação de partículas que conseguiu ganhar mercado mundialmente. Ele permite analisar problemas complexos por uma nova perspectiva, como a dinâmica de partículas associada a soluções de simulação multifísicas. O Rocky DEM proporciona aos engenheiros a capacidade de realizar análises acopladas de simulação de partículas juntamente com outras físicas, como estruturais e fluidos. Capaz de simular com rapidez e precisão o comportamento do fluxo de materiais a granel, a solução engloba formas de partículas complexas e distribuições de tamanho, para aplicações típicas aos mais variados segmentos da indústria.
Tecnologia pioneira no setor elétrico
Duas décadas após se tornar precursora mundial de controladores integrados de tensão e velocidade no setor de energia, a multinacional REIVAX mantém o desenvolvimento da tecnologia em Florianópolis (SC), mas cerca de 50% do seu volume de faturamento (R$ 63 milhões em 2020) é centralizado no mercado externo, onde controla cerca 170 GW de energia.
A empresa exporta para mais de 45 países e mantém filiais no Canadá e Suíça, que ajudam a avançar e ampliar os negócios da companhia nos mercados estratégicos da América do Norte, Europa e Ásia. Para Fernando Amorim da Silveira, CEO da REIVAX, a multiplicação dos negócios e alta da competitividade em âmbito internacional trazem perspectivas de crescimento de market share e de receita nos próximos anos. “Certamente não ficamos devendo nada em termos de solução tecnológica se compararmos com os grandes players internacionais, mesmo que nossos principais concorrentes sejam gigantes corporações”, avalia.
Tecnologia que revoluciona relações entre indústria e varejo
Com soluções presentes em mais de 20 países, a retail tech Involves está colhendo os primeiros frutos de sua estratégia de internacionalização. A empresa, que atende clientes como Unilever, L’Oréal, Kraft Heinz, Danone, Red Bull, Seara, Fini e 3 Corações, começou pelo México seu processo de expansão internacional. A filial mexicana foi aberta em abril de 2019 e já tem resultados bastante positivos. Desde o início da operação no país, a empresa já quadruplicou as receitas que tinha com clientes no país. Atualmente, o mercado mexicano é o segundo mais relevante para a empresa, atrás apenas do brasileiro, e representa mais de 40% do faturamento internacional da Involves. “Apesar das diferentes culturas, os desafios da conexão entre indústria e varejo são muito semelhantes e as nossas soluções são focadas em resolver esses problemas de forma ágil e prática, acredito que por isso temos resultados tão positivos tanto no Brasil quanto em outros países”, explica o CEO da Involves, André Krummenauer.
Solução financeira facilita a entrada de empresas internacionais em economias locais
Com o objetivo de conectar as principais economias mundiais aos países em desenvolvimento, a FacilitaPay — uma plataforma para realização de transações financeiras transfronteiriças — foi fundada em Nova Lima, Minas Gerais. Em três anos, a startup estava com escritórios nos Estados Unidos e México, além do Brasil. Em 2020, atingiu aproximadamente US$ 3,36 bilhões em Volume Total de Pagamentos transacionados pela plataforma. De lá para cá, criou um time de expansão multidisciplinar capaz de inaugurar uma nova operação em até cinco meses. Com serviços de integração de pagamentos para empresas internacionais que desejam atuar em um mercado local, a fintech amplia sua presença na América Latina, com previsão de novos escritórios no Chile e Colômbia até o fim do ano, além de expansões comerciais nos EUA e Europa. “Como consequência, neste ano a nossa taxa média de crescimento da base de clientes é de 13% ao mês”, afirma Stephano Maciel, CEO da FacilitaPay.