Descontrole do fluxo de caixa, ausência na internet e falta de percepção das oportunidades estão entre os equívocos que impedem crescimento dos microempreendedores
O número de microempreendedores individuais (MEI) bateu o recorde no Brasil e hoje supera os 10 milhões de cadastros. Com o crescimento de 10,6%, registrado de janeiro a abril comparado ao fim de 2019, vem o desafio de fazer os negócios prosperarem em meio à crise causada pela pandemia do novo coronavírus e também superar a concorrência. Mesmo sem o cenário adverso, os MEIs já enfrentavam alguns obstáculos, que devem intensificar até o fim do isolamento social, como descontrole nos gastos, falta de previsão de saldo de caixa, ausência no ambiente digital ou até mesmo dificuldade em perceber novas oportunidades e de acesso a crédito.
Para Piero Contezini, CEO do Asaas, conta digital para empreendedores, é comum microempreendedores não terem uma forma de gerir fluxo de entrada e saída e de cobranças. “Isso acaba gerando uma bola de neve que pode ser resolvida com a automação de processos independente do porte da empresa. Um grande problema enfrentado pelos MEIs é a falta de pessoal para o controle de tudo, por isso, investir em tecnologia refletirá em benefícios a longo prazo como maior produtividade, menos custos, mais segurança e melhor planejamento”, explica Piero.
O Asaas, por exemplo, reúne em uma só plataforma soluções que permitem fazer a gestão de pagamentos e cobranças, emissão de notas fiscais e até mesmo a negativação de clientes inadimplentes no Serasa. “Nosso objetivo é ajudar os negócios a crescerem com um melhor custo-benefício. Em breve lançaremos um cartão de crédito e marketplace que complementarão nossos serviços”, completa. Em uma época de difícil acesso a crédito em financeiras e bancos, Piero indica como solução buscar as melhores taxas e outras opções mais ágeis. “A antecipação de recebíveis é uma ferramenta que oferece acesso a crédito mesmo a quem não tem conta em banco. Além disso, possibilita a retirada de valores menores, por isso, tem as melhores taxas, as condições são facilitadas e o controle do pagamento é mais prático”, afirma Piero.
Outra percepção incorreta de muitos MEIs é a de que são pequenos demais para investir em presença online ou, ainda, que por terem negócios do mundo físico, não precisam estar na internet. “Estar presente na internet é essencial para qualquer empresa, seja ela formada por uma ou milhares de pessoas”, diz Ricardo Melo, gerente de marketing da HostGator, multinacional de hospedagem de sites. As estatísticas falam por si só: diariamente, são realizadas cerca de 6,5 bilhões de buscas no Google. “Ter seu produto ou serviço listado nos resultados do principal buscador da internet através de um site ou de redes sociais expõe sua marca a quem pode ter interesse nela” explica.
Se anos atrás desenvolver um site era algo restrito a profissionais, a situação hoje é outra. É possível colocar uma página na rede com facilidade, usando criadores de sites desenhados especificamente para pessoas sem experiência na área. “Criamos uma plataforma de cursos gratuitos online – Collabplay – exatamente para que os empreendedores saibam como expandir seus negócios usando a internet. É mais fácil do que parece”, diz.
Não estar atento a novas oportunidades também é um erro que muitos MEIs acabam cometendo. O empreendedor fica “preso” a uma única visão do negócio, e acaba perdendo chances de diversificar sua atuação em um momento de crise. Vender produtos e serviços para o setor público é uma delas, por exemplo. Uma boa dica é monitorar as licitações e chamadas públicas que são lançadas.
“É possível testar gratuitamente ferramentas digitais de monitoramento e analisar e conhecer mais sobre o universo das compras públicas. Você pode aplicar um filtro conforme a área do negócio e receber uma notificação sempre que uma licitação da área escolhida for aberta”, explica Fernando Salla, CEO da Effecti, startup especializada em automação para participantes de licitações.
Fernando ainda destaca que nesse momento de contratações emergenciais o setor público está mais flexível quanto a documentação, abrindo mais caminhos para os MEIs. Inclusive empresas que foram sancionadas em outros momentos podem voltar a participar, criando novas oportunidades.